sexta-feira, 13 de abril de 2012

As riquezas segundo o Velho Testamento – Parte I




Não são poucos os textos que falam sobre riquezas que parecem antagônicos, especialmente quando comparamos textos do antigo e novo testamento.
Incontestavelmente, no Novo testamento a riqueza é condenada. Não há um texto de meu conhecimento que a justifique. Ao passo que o Antigo testamento apresenta, ao contrário, a riqueza como um bem desejado por Deus, agradável a Deus.
Não há oposição mais radical entre as duas alianças do que esta concernente à fortuna. Outra contradição situa-se no Antigo testamento mesmo, entre o julgamento sobre o rico e aquele sobre a riqueza. Lá há uma singular oposição: enquanto que a riqueza é considerada boa e justa, o rico é quase sempre julgado e condenado. Isto é evidentemente surpreendente, porque se a abundância de bens é um dom de Deus ao homem justo, como se pode atacar com tanta força aquele que aproveita essa abundância? É preciso ressaltar que o Antigo Testamento conhece homens ricos que são justos e dados como exemplos enquanto tais, mas sua justiça não corresponde nem à virtude moral, nem a um uso particular de sua riqueza. Ao contrário, é porque são justos que suas riquezas ganham pleno valor segundo o ensinamento do Antigo Testamento. [1]
Vejamos alguns exemplos de ricos justos no Antigo Testamento:
1) Abraão
Vemos em Abraão um desapego em relação as riquezas. Quando recebeu o chamado de Deus: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei”, certamente deixou para trás muitos de seus bens e sua posição social, apesar de conseguir levar consigo o seu rebanho, servos e ouro. O importante aqui é o despojamento de Abraão, que abandou o que foi preciso para obedecer a ordem que recebera de Deus. Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado por justiça (Gn 15.6). Pouco mais tarde, para evitar contendas com seu sobrinho Ló por causa das riquezas, Abraão abre mão do direito de escolher primeiro as terras por ser mais velho. Ele se subordina sem se apegar à necessidade que haveria de garantir os pastos para o seu rebanho. De fato, Ló toma para si as pastagens mais ricas. E Abraão se contenta com o deserto e as montanhas. E é então que Abraão recebe a promessa de Deus concernente a esta terra:


Disse o SENHOR a Abrão, depois que Ló se separou dele: Ergue os olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre. Gn 13: 14-15
A partir de então, Abraão de fato recebe sua riqueza de Deus. Ele não quer recebê-la de outra pessoa. Após vencer Quedorlaomer, que havia pilhado as riquezas de Sodoma e de Gomorra, todos esses bens vão parar nas mãos de Abraão. E o rei de Sodoma os oferece como presente:
Então, disse o rei de Sodoma a Abrão: Dá-me as pessoas, e os bens ficarão contigo. Mas Abrão lhe respondeu: Levanto a mão ao SENHOR, o Deus Altíssimo, o que possui os céus e a terra, e juro que nada tomarei de tudo o que te pertence, nem um fio, nem uma correia de sandália, para que não digas: Eu enriqueci a Abrão; nada quero para mim, senão o que os rapazes comeram e a parte que toca aos homens Aner, Escol e Manre, que foram comigo; estes que tomem o seu quinhão. Gn 14:21-24
Abraão se importa em não encorajar o rei de Sodoma a dizer: Eu enriqueci Abraão. Só Deus pode dizer isso. A Ele somente a Glória. Vemos porque Abraão sendo rico, é justo. O mesmo acontece com Jó [2].
2) Jó
Satanás põe em dúvida a integridade de Jó diante de Deus:
Então, respondeu Satanás ao SENHOR: Porventura, Jó debalde teme a Deus? Acaso, não o cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens se multiplicaram na terra. Estende, porém, a mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face Jó 1:9-11


Aqui vemos o amor de Jó em questão. O que Jó ama? As riquezas ou Deus? Jó se deprime por ter perdido sua riqueza e sua família, mas Deus não o reprova por isso. Então perguntamos: A que Jó estará verdadeiramente ligado? Irá ele se afundar no desespero, irá ele acusar Deus de injustiça? Deus é justo quando nos favorece, enriquece, nos abençoa e injusto quando pune, retira e condena? Deus tem contas a nos prestar e não aceitaremos seus julgamentos quando não os compreendemos? Jó não compreende, mas sabe que tudo o que possuía era na verdade de Deus, que Deus pode fazer tudo que quiser, que ele dá e retira segundo sua vontade e o que conta é a comunicação com Deus e não as coisas que ele nos envia por um tempo. Jó ama Deus mais que os dons de Deus.
Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR! Jó 1:21
Jó, portanto, não abandonou o que constitui a sua justiça quando sua riqueza desapareceu. Pelo contrário, por ser justo é que a sua riqueza após ser restaurado ganha pleno significado.
3) Salomão
Não podemos passar essa parte sem falar de Salomão que foi, sem dúvida, a pessoa mais rica de todo o Antigo Testamento (e do novo também). No início de seu reinado, Salomão sabia da sua tarefa de construir o templo em Jerusalém.
Essa obra requeria muito poder e riqueza. Portanto seria legítimo pedir a Deus tais coisas para realizar a própria obra de Deus. Mas a postura de Salomão foi outra:


Em Gibeão, apareceu o SENHOR a Salomão, de noite, em sonhos. Disse-lhe Deus: Pede-me o que queres que eu te dê. Respondeu Salomão: [...] Dá, pois, ao teu servo coração compreensivo para julgar a teu povo, para que prudentementediscirna entre o bem e o mal; pois quem poderia julgar a este grande povo? 1Rs 3:5-6;9
 Assim Deus faz a Salomão a mesma pergunta que faz a Jó e a Abraão. O que tu amas? Após a escolha, Salomão torna-se o rei poderoso e rico que conhecemos. Vemos que a justiça da riqueza resulta não de uma atitude moral, mas de uma atitude espiritual. Não é porque Jó ou Salomão adquiriram suas riquezas, ou porque a utilizam bem, que se justifica o fato de serem ricos. É porque eles tinham um coração voltado para Deus. [3]

Nenhum comentário:

Postar um comentário